Diário de bordo: Caldas do Jorro

    Para iniciar o Diário de Bordo do blog, algumas reflexões antigas sobre uma viagem que fiz há alguns anos a lugar mágico... 

Águas termais minerais que atingem a 48ºC, saem do lençol freático e chegam até as fontes para quem quiser se lavar, mas sem shampoo ou sabão, como diz a placa.

Pessoas andam nas ruas de roupão, algumas com salto alto

Pessoas vêm de todos os lugares do Brasil, porque se ouve falar que são águas milagreiras

-Vê fia? Aquilo é nervo

A senhora aponta a outra senhora que é conduzida por algum parente

-Não guarde nenhuma raiva, porque nervo faz isso

Eu concordo com ela com a cabeça

Pessoas vêm de todos os lugares do Brasil à procura das águas milagreiras

Pessoas vêm de todos os lugares do Brasil para conhecer o lugar de águas milagreiras

E esse lugar é minúsculo, mas parece mágico, e talvez seja mesmo, porque a cidade não pára mesmo no fim de semana. 
Comércio aberto, artesanato aberto, feira com toda diversidade de coisas e produtos:

-Quanto é essa pomada?

-É R$ 55

-Credo! E pra quê serve

-Pra fazer safadeza

-Credo!

-Essa pomada é pra gente idosa

-É Viagra natural?

-É, moça, levanta defunto

-0.0… e essa?

-É pra dor, moça. Cura toda dor, moça

-Hmmm

-Desculpe a osadia, moça, mas seu caso é mais esses alhos aqui

-Que tem esse alho?

-É pra olho gordo. Moça bonita deve ter muito olho em cima
(Eu começo a rir)

- Acredita, moça. Esse alho é milagreiro
(Eu acredito)

Da placa do Jorro em diante muita coisa tem tom milagreiro

Quase transcendental

Em Jorro até a gente dorme direito

E eu não entendi porque de branca, minha mãe, quando foi chegou morena.

E eu não entendi porque minha mãe trouxe a face iluminada quando chegou de lá

Agora, eu entendo =]

Cheiros, cores, sorrisos…

Na feira, as pessoas usam sungas, sandálias, bocapius… vestir-se, que é isso? =) tem banho na praça, “lá embaixo também”, piscinas quentes… histórias:

“Sabe aquele rio? Cuidado leva muita gente”…O rio tem água corrente…

Produtos..

Eu entro numa loja e pechincho. Vendedor não baixa o preço? não compro… na outra, cadeira, sorrisos, descontos (ah eu gosto disso):

- Dá cá teu telefone, que eu volto aqui

Caldas do Jorro é convidativa

À noite, música ao vivo na praça (música horrorosa, gosto musical ridículo e pavoroso), Ah mas em Jorro a gente não percebe isso. Em Jorro parece show =]

Mesinhas, pessoas se paquerando

Pessoas com sem vergonhices
(Em Jorro também tem isso)

Pessoas nas fontes banhando

Pessoas na fila para as fontes banhativas

Pessoas perambulando de roupão

Pessoas ainda com a roupa do banho, como eu

Comidinhas:
Beijú
Pastel
E outras coisas convidativas
Churrasquinho de uma carne que provavelmente veio da feira livre do dia anterior e do dia seguinte, sem fiscalização
(pavorosa)

Os cães errantes pedem os restos, as sobras, enquanto perambulam entre as carnes expostas sem refrigeração
Em Caldas do Jorro também mora a ignorância

Passeios ao ar livre

Não há como pensar nos problemas
Nesse lugar eles não vêm junto
Porque seus olhos querem muito comer tudo que é diferente
E eles acompanhados dos cheiros e sabores, enganam o cérebro
Que só pensa uma coisa:
“Porque não trouxe máquina para registrar isso? 
Mas quem tem amigos não sofre que ficaram de me arrumar umas fotinhas =]
E por falar neles, delícia rever gente que você já conhece

Delícia maior conhecer gente nova

Delícia fazer novas amizades

Conversas adoráveis com senhoras adoráveis que conhecem muito da vida:
“Aprenda viu minha fía? Eu conheço da vida, sei o que tô dizendo”
A fía aprende
Se a fía tivesse mais ouvidos, ela os emprestaria

Gargalhadas que não há Mastercard que pague

Ditados curiosos que só lhe estimulam a fazer uma prece:
“Deus que eu me lembre de todos eles”

Histórias que eu nunca vou esquecer

Micos que em Jorro nem parecem micos

E em Jorro a gente anda devagar

Andar depressa pra quê?
Em Jorro não há relógios, ou melhor, eles não tem serventia. Porque o tempo não passa

-Da cá teu telefone para eu saber as épocas do ano melhores e os preços de estadias, que eu volto aqui.

Caldas do Jorro é convidativa.




[Meu irmão pergunta: O que está fazendo?

eu respondo: postando no blog sobre Jorro
meu irmão diz: você não para de falar desse lugar!
eu sorrio
ele não entende.] 

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